terça-feira, junho 29, 2010

REVISTA INTERA: As novas páginas da música em Manaus

Aconteceu sábado (26) no Espaço Cultural Valer, o lançamento da REVISTA INTERA: uma novidade que vem resgatar, divulgar e impulsionar o cenário local da música que fala alto e tem muito a dizer. Com jeito de fanzine e produção de "gente grande", a revista Intera surgiu como um sonoro cala-boca a quem diz que Manaus não tem rock e no Norte só tem Boi-Bumbá.

Embora a revista não fique devendo em nada no visual e na diagramação descolada, bem ao estilo de seu público-alvo, o ponto forte da Intera com certeza são os textos. E que textos! Ainda que a quantidade de letrinhas possa assustar os menos entusiastas da leitura, a qualidade das colunas, matérias e entrevistas supera de longe qualquer expectativa, provando de uma vez por todas que não só é possível como necessário levar a sério um cenário tão rico quanto desacreditado que é a música local, independente, alternativa, que todo mundo conhecê mas ninguém vê. A Intera chegou para mostrar, botando os Platinados na capa e fazendo jus a cada nome, rosto e som que vêm no recheio, no rock, no rap, na música eletrônica...

Meus anos de trabalho na divulgação da cena underground de São Paulo me mostraram que este é um meio onde pululam boas idéias e faltam iniciativas. Agora Manaus tem - literalmente- nas mãos, a oportunidade de fazer vingar esse projeto nascido "das reuniões de sábado à noite, das discussões via Internet,na troca de idéia, de informação, na briga ou na diversão" - como o jornalista Thiago Hermido assina no primeiro editorial. A também editora da Intera, Renata Paula, creio que dispensa apresentações. Se alguém que se diz "do meio" não conhece, nunca ouviu falar dela e de sua atuação de responsa no cenário cultural manauara,esse alguém não vale nem os R$ 2 que custa a revista...

Pra completar, uma seção de classificados dá aquela força pra conectar quem precisa vender, comprar ou arrumar uma banda (os anúncios dessa seção são gratuitos), e a última página traz a crônica de "Mark Bloch e Sua Guitarra Voadora", uma historinha bem ilustrada que prenuncia uma continuação. Como esperamos que continue a própria revista INTERA, em apresentação e qualidade, cumprindo essa promessa de impulsionar ainda mais alto uma cena que há muito já pode voar com suas próprias asas.


CONTATO

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Mini- Mim



Nunca fui uma boa jardineira.Sem contar os feijões que fazia brotar em potes de Danoninho na escola, nunca consegui cultivar por muito tempo qualquer planta que fosse. Na verdade, dei como encerrada minha insistência quando consegui matar um cacto.
Então, por ocasião de meu casamento, meu amigo Henrique presenteou-nos com uma mini-roseira. Linda, cheia de pequenas rosas vermelhas, exibidas, exuberantes. Olhei para elas com o encanto e o receio de quem recebe um recém-nascido.

Com carinho e cuidado, dispensei a elas todo a atenção que achava necessária a uma planta de aparência tão delicada: sombra, água, um pouco de adubo. Mas as rosinhas secaram, caíram e não queriam mais brotar. Mesmo assim, todas as manhãs, regava o pequeno vaso com uma certa tristeza, penalizada por não saber fazer vingar sequer uma flor dada com tanto carinho.

- Rosinha, o que você tem? Eu sou Rosa também, devia saber cuidar de você, mas você é folha e flor e eu sou carne. Me diz o que você gosta, que eu já não sei mais o que fazer.

Nenhuma resposta. Suspirei para o silêncio com o sol da manhã manauara batendo em minhas costas. Esse sol de bem cedinho, gostoso de sentir. Desejei não ter serviço e poder ficar "lagarteando" por horas, como tanto me faz feliz.
Já ia entrando quando deu um "estalo" na minha cabeça: talvez a rosinha goste desse sol também. Tirei o vaso da sombra onde o mantinha. "Eu gosto disso, quem sabe você goste também".

Ás dez em ponto, levei-a de volta á sombra " Depois você volta. Nesso horário o sol é muito forte, pode te fazer mal.". Levei-a para a área de serviço, fiquei lavando roupa e conversando com ela. "Os vizinhos vão achar que sou maluca. Vamos ouvir um pouco de música, rosinha, quem sabe você goste também".

Coloquei música, cantei junto. No fim da tarde, coloquei a rosinha novamente no sol, como prometi. Naquela noite, resolvi deixá-la "dormir" no sereno. É tão bom dormir ao léu em noites tão estreladas como aquela!

-Boa-noite, rosinha! - disse, antes de entrar.

No dia seguinte (impressão minha?) - a rosinha parecia mais verde e folhada. Descobri encantada dois pequenos botões. Quase beijei os brotinhos, batendo palmas de tanta alegria. Talvez agora eu consiga finalmente fazer uma flor brotar nesse mundo. Talvez não fosse mesmo difícil para a Rosa aprender o que a rosinha gosta. Um pouco de sol e sensibilidade. Ora, e quem não gostaria disso?

Pátria de Chutados



Não sei se o Brasil é o único país do mundo onde se dispensam funcionários e pára-se a produção por causa de jogos de futebol, mas não duvido que seja. No fundo, o negócio do brasileiro não é nem futebol: é carnaval. Pode ver: até em época de eleições o negócio é fazer barulho, carreata, ligar o som alto, pintar a cara e sair por aí agitando bandeiras e jogando papel picado para cima. Copa não é só futebol, é churrasco, é bebida (para alguns é bebedeira) , é reunir os amigos, a família, os vizinhos, o país inteiro colocando em pauta, aos berros, a reputação da mãe do juiz.
Cristãos não brincam o carnaval, e tem muito brasileiro que não se preocupa em exercer sua cidadania sequer indo ás urnas, mas copa, ah! Todo mundo gosta, vê, torce, ri, se descabela, pinta a cara, a casa, o carro, o cachorro de verde-amarelo, põe bandeira na janela, até bota a mão no peito pra cantar o Hino Nacional. Ah, se fosse a mesma coisa na Semana da Pátria, que quase ninguém mais lembra quando é!

Mas, em lugar de me lamentar, aproveito. Boto minha bandeira, canto meu hino, saio de verde-amarelo transbordando a honra de ser brasileira e agora - só por agora - ninguém acha que sou maluca.